sábado, 23 de julho de 2011

Violência Racial

                                                        (Zilma de Lourdes Nascimento, formada em Letras - Português/Inglês pelo   UNASP - Centro Universitário Adventista de São Paulo) 
          Ao pensarmos sobre violência racial, vem à mente a história inicial do Brasil e, também, a história do próprio cristianismo. Mas, afinal, haveria tal violência caso todos entendêssemos que sempre fomos iguais perante a LEI (CF Art. 5º)? E, se a LEI assim nos define, por que esse tipo de violência existe?
          Na verdade, nós seres humanos temos dificuldades em entender e aceitar as diferenças. Não aprendemos a lidar com o que não se encaixa no que chamamos de igualdade. Esse foi o caso entre judeus e samaritanos, onde aqueles não aceitavam estes por questões raciais e, por isso, chegavam (os judeus) a fazer viagens mais longas quando precisavam ir à Galiléia para não pisarem em terras samaritanas. “Um judeu de verdade não tinha nenhuma relação com samaritanos que se constituíam de uma raça de mestiços de israelenses desviados com gentios [estrangeiros].”[1] E, bem mais tarde, os próprios judeus sofreram a violência brutal efetivada por Hittler.

O termo anti-semitismo foi criado no século 19, quando as teorias religiosas que acusavam os judeus de deicídio ficaram caducas. Nesse momento, a partir de uma leitura tergiversada das teorias ligadas ao darwinismo social, o motivo para perseguir os judeus começou a ancorar-se em pressupostos biológicos. Assim, para Hitler, existiam três raças: as “fundadoras” ou superiores, representadas pelos povos germânicos, as “depositárias”, pelos povos eslavos, e as “destruidoras” ou inferiores, que tinham nos judeus o exemplo paradigmático.[2]

Vindo para a nossa história, é interessante salientar que vivemos muito sob a bela perspectiva de que moramos num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza... como menciona a letra da melodia de Jorge Bem Jor e Wilson Simonal, quando, na verdade, há um pano de fundo que mancha essa visão: temos um histórico de pessoas que sofrem devido à sua raça. São, principalmente, índios e negros que participaram do “desenvolvimento” do país, mas que têm seus direitos limitados, vivem muito à margem do que outras raças vivem, tanto no âmbito social quanto no político. Como mencionado por Dojival Vieira, Jornalista, Editor de Afropress - Agência Afro-Étnica de Notícias,

Nascer negro, no Brasil, como se vê, não significa apenas ser candidato a viver nos piores indicadores de carência e pobreza, ganhar cerca de 54% menos, não frequentar escolas públicas de qualidade e estar condenado a condições subalternas. Significa, principalmente: morrer mais cedo.[3]

          Com os índios não é diferente. Mesmo tendo sido parte fundamental na formação do Brasil (conforme os parâmetros portugueses),

As diferenças se acentuaram, levando à formação de uma hierarquia de classes que deixava evidentes a distância e o prestígio social entre colonizadores e colonos. Os índios e, em especial, os negros permaneceram em situação de desigualdade situando-se na marginalidade e exclusão social, sendo esta última compreendida por uma relação assimétrica em dimensões múltiplas – econômica, política, cultural. Sem a assistência devida dos órgãos responsáveis, os sujeitos tornam -se alheios ao exercício da cidadania.[4]

          Cidadania esta muito mais distante das mulheres, tanto negras quanto índias. Além de toda a violência racial sofrida devido à raça, há os problemas que aparecem e se desenvolvem devido ao gênero.

Como diz Sueli Carneiro , o estupro colonial praticado pelos homens brancos desde a época da colônia contra negras e indígenas ainda hoje perpetua a imagem da mulata disponível, submissa e dócil. A história violenta do patriarcado e do escravismo se desemboca em outras situações de violência contra as mulheres negras como o turismo sexual e o tráfico de mulheres, além da violência psicológica, do abuso sexual e da privação.[5]

          E somos nós, as mulheres (não importando raça, cor, origem, etc.) que exercemos e temos que exercer um papel de fundamental importância social, uma vez que estamos à frente da sociedade primeira – nosso lar, onde começam a formação, a informação e a transformação da sociedade mais ampla. É dessa forma que se poderão aparecer mudanças nas políticas, nos relacionamentos pessoais e sociais e, também, renascer e fazer viver o discurso do famoso Martin Luther King: I have a dream[6], onde ela já falava dessa necessidade de todos serem tratados de forma igualitária, fazendo valer as leis civis e religiosas que regem nosso país.



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